Multimodality: The Power of images, sound, media and environment

Fonte: https://sites.gsu.edu/cetloe/2016/05/03/multimodality-the-power-of-images-sound-media-and-environment-2/ 


Caros leitores,

o objetivo principal deste blog é compartilhar aprendizado, opiniões e reflexões sobre letramentos e multimodalidade, contribuindo para  a produção acadêmica da turma de 2025.1 do PPGL-UESPI. Além disso, espero também aprender, revisitar, e quem sabe até redefinir perspectivas que envolvam letramentos, multiletramentos, microletramentos e multimodalidade de modo a (re)construir conhecimento. Dito isto, sejam bem-vindos e sintam-se à vontade para colaborar!

Para começar, precisamos introduzir conceitos basilares que moldam os estudos sobre linguagem humana e comunicação. Eis o nosso ponto de partida:


Linguística - Saussure, Martelotta e a complexidade da comunicação humana


Diferente de outras habilidades biológicas como a visão e a respiração, a fala não acontece porque o ser humano possue um sistema ou órgão desenvolvido para sua produção. Ao invés disso, utilizamos estruturas "emprestadas" para conceber uma das habilidades que nos distingue de outros animais: o falar. Mas como funciona essa "engrenagem", o que é linguística e qual seu intuito como ciência?.

De acordo com Martelotta (2011), a linguagem trata-se de um mecanismo tão sutil quanto complexo, de modo que apenas a espécie humana é capaz de realizá-lo.  Assim, ele postula que quando nos referimos à linguagem do ponto de vista científico, estamos falando não apenas da observância da configuração das línguas naturais, mas também de "processos através dos quais essas várias línguas refletem, em sua estrutura, aspectos universais essencialmente humanos" (MARTELOTTA, 2011, p. 16). Ou seja, ao estudar a linguagem de forma científica, não observamos apenas como as línguas são organizadas, mas também como elas expressam características inerentes ao ser humano. Essa afirmação reforça também a visão de linguagem de Noam Chomsky (1957), que revolucionou a linguística com a teoria da Gramática Gerativa, propondo que a capacidade linguística é inata.

Com o intuito de oferecer, entre as diferentes perspectivas teóricas das escolas que estudam línguística, uma visão mais imparcial e geral sobre o fenômeno da linguagem, Martelotta (2011) apresenta um conjunto de 5 características referentes a este fenômeno:

a) Técnica articulatória complexa - O domínio que o falante tem sobre complexos fenômenos de ordem fonológica;

b)  Uma base neurobiológica composta de centros nervosos que são utilizados na comunicação verbal - Desde meados do século xix, a partir dos estudos de cientistas como Paul Broca e Karl Wernicke, ficou estabelecido que uma área na parte frontal do hemisfério esquerdo do cérebro é responsável pela expresão da fala e que uma parte posterior do lóbulo temporal esquerdo é responsável por compreender a fala de outras pessoas. Consequentemente, essas regiões do cérebro ficaram conhecidas respectivamente como área de Broca e área de Wernecke, bem como as deficiências nessas áreas foram denominadas afasias de Broca e Wernicke. Observe essas duas regiões na figura abaixo:




Fonte: https://pt.linkedin.com/pulse/neuroci%C3%AAncia-da-linguagem-nely-raquel-miranda


c) Uma base cognitiva, que rege as relações entre o homem e o mundo biossocial e, consequentemente, a simbolização ou representação desse mundo em termos lingüísticos - Sem entrar em detalhes sobre a natureza  da estrutura cognitiva humana (como as hipóteses sobre o relativismo linguístico x gramática gerativa), pode-se dizer que uma base cognitiva diz respeito a "um tipo de organização mental" sem a qual "a capacidade da linguagem não existiria ou, pelo menos, não teria as características que tem".

d) Uma base sociocultural que atribui à linguagem humana os aspectos variáveis que ela apresenta no tempo e no espaço - "as línguas variam e mudam ao sabor dos fenômenos de natureza sociocultural que caracterizam a vida na sociedade", variam pela necessidade de idenficação por meio da linguagem e mudam pela necessidade de se buscar novas expressões para designar novos objetos, conceitos ou formas de relação social".

e) Uma base comunicativa que fornece os dados que regulam a interação entre os falantes  - "Como a linguagem se manifesta no exercício da comunicação, subordinada a aspectos provenientes da interação entre os indivíduos, como a criação de formas novas e mais expressivas para substituir construções que perderam sua expressividade em função da alta freqüência de uso". 

    Assim, a capacidade humana de falar, longe de ser uma simples função biológica, revela-se uma engrenagem sofisticada que integra técnica articulatória complexa, bases neurobiológicas, estruturas cognitivas, influências socioculturais e dinâmicas comunicativas. Essas cinco características propostas por Martelotta (2011) não só explicam como transformamos pensamentos em palavras, mas também evidenciam a conexão intrínseca entre linguagem e nossa essência humana — capaz de refletir universais e se adaptar à diversidade de contextos sociais.


Mas afinal, o que exatamente é linguística e qual seu intuito como ciência? 

    Imagino a linguística como uma lente que nos permite observar e analisar esse sistema em trama que é a linguagem. Baseado nisso, venho trazer reflexões sobre esta ciência observando-a de dois diferentes ângulos. O primeiro, sob a perspectiva de Ferdinand de Saussure (1916), por (não sozinha) considerá-lo imprecindível e basilar quando se trata de definir de que campo de estudo estamos falando. O segundo ângulo é tratado sob a perspectiva de Mário Eduardo Martelotta, que, em minha opinião traz em sua obra Manual de Linguística, de 2011, em uma linguagem tão simples quanto genial, além definições e delimitações que me ajudaram a entender os conceitos que, na obra de Saussure, passaram por mim despercebidos ou foram incompreendidos.

    Seguindo os passos de Ferdinand de Saussure, considerado o pai da linguística moderna, apesar de ter publicado pouco em vida, teve seus textos organizados por seus alunos que montaram a obra Curso de Linguística Geral. Neste trabalho, Saussure (1916) defende que a linguística deve ser considerada uma ciencia autônoma e apresenta conceitos fundamentais que até hoje norteiam a linguística moderna: linguagem x fala, sincronia x diacronia, signo linguístico e significante x significado. Assim, podemos dizer que ela estuda não só a estrutura das línguas, mas também como as usamos na prática.

    Martelotta (2011) complementa essa visão ao lembrar que a linguagem é um fenômeno vivo, moldado por fatores sociais, cognitivos e culturais. Assim, o intuito da linguística vai além de descrever regras gramaticais: ela busca entender como a linguagem nos define enquanto humanos, facilita a comunicação, se transforma ao longo do tempo. Especialmente em contextos multimodais da atualidade, pode até ser compreendida como uma potencial ferramenta de influência e transformação social.

    Dado o conceito de linguística bem como a descrição de seus objetos de estudo, trago agora algumas condiderações sobre o escopo da linguística, ou seja, seu intuito e objetivo de estudo como ciência.

Áreas da Linguística

   A linguística pode ser definida como o campo de estudo que abrange a análise da linguagem humana em todas as suas dimensões: estrutura, funcionamento, variação, aquisição, mudança histórica e interação social. Baseando-se em Saussure (1916) e Martelotta (2011), mas ampliando com contribuições de outros teóricos, podemos detalhar esse escopo da seguinte forma:

1. Estrutura e Sistema (Saussure)
    Para Saussure (1916), o escopo central da linguística é a língua (langue), entendida como um sistema abstrato de signos arbitrários e interdependentes. Isso inclui:
  • Fonologia (sons), Morfologia (formação de palavras), Sintaxe (combinação de elementos), Semântica (significados);
  • A análise sincrônica (estudo da língua em um momento específico) e diacrônica (mudança ao longo do tempo).

2. Funcionalidade e Variação (Martelotta)
    Martelotta amplia o escopo ao integrar perspectivas funcionalistas e sociocognitivas:
  • A linguagem é estudada como instrumento de comunicação, vinculada a funções sociais (ex.: identidade, poder) e cognitivas (ex.: processamento mental).
  • Inclui a variação linguística (regional, social, situacional) e a mudança linguística, analisando como fatores históricos e culturais moldam as línguas.

3. Competência e Performance (Noam Chomsky)
Chomsky, com sua Gramática Gerativa, introduz a distinção entre:
  • Competência: conhecimento interno da língua pelo falante (capacidade inata).
  • Performance: uso concreto da língua, sujeito a limitações contextuais.
    Isso expande o escopo para incluir a cognição humana e a busca por universais linguísticos.

4. Discurso e Interação (Mikhail Bakhtin)
Bakhtin, com sua teoria do discurso, acrescenta:
  • A linguagem como prática social dialógica, onde os sentidos são construídos na interação entre falantes.
  • Foco em gêneros discursivos, ideologia e contexto histórico-cultural.

5. Multimodalidade (Gunther Kress)
    Kress, na linha dos Novos Letramentos, amplia o escopo para além do verbal:
  • A linguagem é analisada em conjunto com outros modos semióticos (imagens, gestos, sons), destacando a multimodalidade na comunicação contemporânea.

    O diagrama abaixo apresenta a linguística como uma ciência multifacetada. Das ruas onde observamos as variações linguísticas vivas, aos laboratórios onde se modelam algoritmos de processamento de linguagem, passando pela investigação das estruturas mentais que nos permitem falar - o estudo da linguagem revela-se tão complexo e diverso quanto o próprio fenômeno que busca compreender. Cada uma dessas vertentes contribui para desvendar um aspecto diferente desse que é talvez o mais humano de todos os nossos atributos: a capacidade de criar e compartilhar significados através da linguagem.





Fonte: https://www.cefala.org/fonologia/imagens/img_divisoes_linguistica.jpg


    Em resumo, podemos dizer que o objetivo da linguística como ciência é compreender como a linguagem opera como fenômeno complexo, simultaneamente individual e coletivo, estável e mutável, verbal e não verbal. Isso sugere, portanto, uma bordagem multidisciplinar que mostra que o escopo da linguística é tão dinâmico quanto a própria linguagem.


REFERÊNCIAS

ÁREAS e subáreas da Linguística [Infográfico]. CEFALA, [s.d.]. Disponível em: https://www.cefala.org/fonologia/imagens/img_divisoes_linguistica.jpg. Acesso em: 24 mar. 2025.

CHOMSKY, Noam. Syntactic Structures. 2. ed. Berlim: De Gruyter Mouton, 2002.

MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2011.

MIRANDA, Nely Raquel. Neurociência da LinguagemLinkedIn, [s.d.]. Disponível em: https://pt.linkedin.com/pulse/neuroci%C3%AAncia-da-linguagem-nely-raquel-miranda. Acesso em: 23 mar. 2025.

SAUSSURE, Ferdinand de.
 Curso de Linguística Geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 1916/2006.

Comentários

  1. Parabéns pela publicação! ...mas eu não entendi o "escopo da linguistica". Uma sugestão: olhe os blogs dos seus amigos ou o conteúdo da primeira aula. A referência n. 05 ( multimodalidade) não encontrei dentro do texto.

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