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Sempre que preciso divulgar informações importantes para os alunos do Centro de Línguas de Timon, procuro uma forma clara e acolhedora de me comunicar. E uma das ferramentas que mais me ajuda nessa missão é o uso estratégico de emojis! Sim, aqueles pequenos símbolos visuais que costumam aparecer em conversas informais também têm um grande potencial informativo.

 

Fonte: arquivo pessoal

Nas imagens acima, por exemplo, compartilhei detalhes sobre as matrículas, horários e locais das aulas, além de orientações importantes sobre vestimenta. Os emojis não apenas deixaram o texto mais visualmente atrativo, como também organizaram as informações por categoria — como horário 🕓, local 📍 e regras de vestimenta 👖 —, facilitando a leitura rápida dos pontos essenciais.
Essa é uma prova de que emojis, quando bem usados, podem ir muito além da estética: eles ajudam a comunicar com mais eficiência, especialmente com um público jovem e acostumado a esse tipo de linguagem.
Neste post, falarei um pouco sobre a origem, a evolução e as funções desses caracteres que já são inerentes ao nosso cotidiano no que diz respeito à comunicação. 
Emoticons and Emojis
A divulgação da "Palavra do Ano" (Word of the Year, ou WOTY) pelo Dicionário Oxford (Oxford English Dictionary, OED) é um processo anual que combina análise linguística, dados de uso e relevância cultural. Porém, em 2015, uma quebra de protocolo aconteceu: a palavra do ano não foi uma palavra, mas um emoji que representava “lágrimas de felicidade”. Esse evento nos chama a atenção para as mudanças na comunicação contemporânea e para a relação do desenvolvimento de novas tecnologias com a comunicação.
Emojis são populares e já até ultrapassaram a barreira da comunicação on-line. Anúncios televisivos e outdoors, por exemplo, já contam com esse tipo de representação gráfica.
Eles são associados à linguagem informal e descontraída, divertida, leve e amistosa e já evoluíram ao ponto de não representarem apenas expressões faciais mas também corporais ou até sentimentos complexos como a sensação de ter sido enganado ou ter sido feito de bobo, que pode ser representada com uma carinha de palhaço.
Podem ser utilizados também para suavizar uma mensagem em tom sério como uma reclamação seguida de uma carinha feliz. 
O uso de emoji em práticas digitais podem remontar mais de trinta anos, com um novo uso da pontuação para representar gestos ou rostos.
Atualmente, digitar certa sequência de caracteres produz equivalentes gráficos que foram incorporados a softwares. Ou seja, parece haver uma tendência de conversão do uso de determinada combinação de caracteres para representar símbolos gráficos, pictogramas.

Emoticons vs Emoji


Na visão de Scott (2022), “a função dos emojis tem se desenvolvido além de fornecer uma mera representação do rosto, gesto ou linguagem corporal do emissor da comunicação” (Tradução minha).

Para o autor: “A função dos emojis tem se desenvolvido para além de fornecer uma mera representação do rosto ou linguagem corporal do emissor. Sua contribuição é altamente sensível ao contexto: os usuários a empregam por uma série de razões pragmáticas”.

Em outras palavras, os emojis estão deixando de ser apenas representações literais e passam a ganhar significados mais complexos, com diversas funções e possibilidades de uso de acordo com a demanda comunicativa tendo em vista que os usuários são hábeis em redefinir os propósitos dos recursos disponíveis para passar adiante a mensagem. 

A criação do emoticon é atribuída ao cientista computacional Scott Fahlman.

Fahlman deu a sugestão de se usar a sequência de caracteres “:-)” para piadas e “:-(” para o que não fosse piada. Isso aconteceu após a má interpretação de uma mensagem cômica sua, pois um suposto vazamento de mercúrio em um elevador foi interpretado de forma literal, causando confusão.

Com a evolução da tecnologia, equivalentes gráficos aos emoticons foram incorporados aos softwares. Estes hoje são conhecidos como emojis. Ao digitarmos, em determinados programas, dois pontos seguidos de um parêntese fechado, por exemplo, produzimos uma carinha feliz.

Assim, podemos inferir que os emoticons estão, gradativamente, evoluindo para emojis, visto que a uma tendência de substituição.


Depende do contexto!


Hauser (1996), bem como Wharton (2009), chamam a atenção para o fato dos emojis apresentarem diferentes significados de acordo com a situação comunicativa. Por exemplo, uma carinha feliz pode representar tristeza, mas também frustração, vergonha, confusão ou desaprovação. 


Emojis vs Cara a cara

Na conversa frente a frente, podemos perceber emoções verdadeiras porque as expressões aparecem sem controle. Mas, online, um emoji é sempre intencional — ninguém envia um 😃 por engano (a não ser que digite errado). Isso significa que, ao receber um emoji de sorriso, por exemplo, você não está vendo o sentimento real da pessoa, e sim uma representação escolhida por ela, um sinal do que ela quer que você pense que ela está sentindo.

O mesmo vale para emojis que mostram comportamentos naturais, como suar, tremer ou vomitar. No corpo humano, essas reações não têm função comunicativa — são respostas físicas. Mas no ambiente online, elas ganham função expressiva. Alguém pode usar o emoji de vômito para mostrar repulsa por algo, mesmo sem estar enjoado de verdade. Ou pode imitar o ato de tremer para enfatizar o quanto está com frio, mesmo que nem esteja tanto assim. Quando usamos esses emojis, estamos encenando sentimentos e estados físicos — e o outro precisa interpretar o que queremos dizer com isso.

E aí vem um ponto importante: emoji não é igual a emoção real. Uma expressão facial espontânea, na vida real, pode ser considerada mais confiável como sinal de emoção. Já um emoji, por ser sempre deliberado, pode ser usado para expressar ironia, exagero ou até esconder o que realmente sentimos. O leitor de uma mensagem sabe que o emoji foi escolhido de propósito, e por isso precisa inferir o que está por trás dessa escolha.

Ou seja, o emoji funciona mais como uma pista do que queremos comunicar, e não como uma janela direta para os nossos sentimentos. No ambiente digital, os usuários reinterpretam e reinventam esses recursos para se expressarem com o que têm à disposição.

Funções dos emoticons e emoji em atitudes, emoções e tom

  • Alteram a interpretação da mensagem

  • Contribuem para as explicaturas de nível superior

  • Reforçam atitudes e identidade

  • Aumentam a intensidade emocional

  • Esclarecem o tom da mensagem

  • Mitigam reclamações ou queixas

  • Gerenciam relações interpessoais (relational work)

  • Estabelecem contato interpessoal

Emojis também funcionam como indicadores de força ilocucionária, ajudando os interlocutores a entender a intenção por trás da mensagem — como indicar que algo é uma piada, um convite amigável ou uma sugestão, e não uma exigência. Isso contribui para a polidez e clareza pragmática, especialmente em ambientes onde o tom de voz e a expressão facial estão ausentes.

Além disso, emojis também contribuem para o significado proposicional da mensagem. Eles podem substituir palavras (ex.: “You're a ⭐”), adicionar ambiguidade intencional ou orientar a interpretação metafórica e inferencial do enunciado. Emojis ajudam ainda a especificar o tópico de mensagens que tratam de vários assuntos, favorecendo a coerência em contextos com estrutura de diálogo desorganizada, como em aplicativos de mensagens.

Por fim, o texto mostra como emojis e emoticons são usados para indicar ironia ou sarcasmo. Em contextos digitais, onde pistas não-verbais são limitadas, emojis como a carinha piscando ou com língua funcionam como marcadores importantes para sinalizar que algo não deve ser interpretado literalmente. O uso incongruente de emoji e texto (ex.: mensagem negativa com emoji positivo) também pode ser um forte indício de ironia. Assim, o significado depende fortemente do contexto discursivo.

Em resumo…

Emoticons e emojis são ferramentas versáteis na comunicação digital. Eles não apenas expressam emoções, mas também ajudam a interpretar intenções comunicativas, esclarecer significados, manter a coerência textual e sinalizar emoções e intenções. Contudo, seu valor interpretativo depende sempre do contexto discursivo em que são usados.

REFERÊNCIAS

SCOTT, Kate. Non-verbal communication online. In: SCOTT, Kate. Pragmatics online: language and digital media. Abingdon: Routledge, 2022. p. 82-107. Disponível em: https://padlet.com/giseldacostas/bibliografia-letramentos-e-multimodalidade-tbiem1st8pit/wish/KxJvagzRRRklWAg0. Acesso em: 11 abr. 2025.

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